No âmbito das comemorações do Dia Internacional da Língua Materna, foi apresentada a Obra Completa Padre António Vieira, pela supervisora linguística da obra, Doutora Aida Lemos.
Não poderia haver melhor dia para celebrar aquele que foi considerado o “Imperador da Língua Portuguesa”, o maior orador português de todos os tempos – o Padre António Vieira.
Vieira nasce em Lisboa a 6 de fevereiro de 1608 e, com 6 anos, em 1614, parte com a família para o Brasil, e o resto da sua vida será desta forma repartida, fazendo, incrivelmente para a época, muitas viagens intercontinentais; assim, e usando as palavras de Eduardo Lourenço, ele torna-se: “[…] o laço entre os dois mundos, o da Europa e o do Brasil – terra que era também a sua, pela sua educação, pelo seu coração […]” (LOURENÇO, 2006: 12-13).
Em 1625, a 6 de maio, faz profissão dos primeiros votos religiosos na Companhia de Jesus, na Baía, emitindo, in secreto, o voto de se dedicar ao serviço dos índios e dos negros, e assim começou a estudar línguas nativas dos povos do Brasil e dos oriundos de Angola. Estuda Humanidades, Filosofia e Teologia nos colégios jesuítas de Pernambuco e da Baía e prega o seu primeiro sermão – “Sermão da Quarta Dominga da Quaresma” (março, Igreja da Conceição da Praia, na Baía) em 1633.
Em 1641, Vieira parte para Lisboa, numa embaixada de obediência do Brasil a D. João IV, aclamado rei de Portugal, a quem o pregador ficará sempre ligado por uma grande amizade, recebendo do rei proteção. Em 1643, o jesuíta defende a tolerância para com os cristãos-novos e a necessidade económica de se admitir no reino os judeus portugueses espalhados pela Europa.
Em 1644, é nomeado pregador régio e, em 1646-1647, integra embaixadas com destino à Holanda e a França; na viagem desta última é feito prisioneiro por corsários que o levam a Dover e a Londres. Em 1650, realiza nova embaixada, desta feita a Roma.
Parte, em 1652, de Lisboa para o Brasil, acabando por parar em Cabo Verde, onde elogia o clero indígena. Já no Brasil, 1654, prega em São Luís do Maranhão o famoso “Sermão de Santo António” (aos peixes), após o que embarca para Lisboa para tratar de questões relacionadas com a liberdade dos índios. Durante a viagem fica cativo, no mar dos Açores, de um corsário holandês, mas é deixado na ilha Graciosa, de onde passa para as ilhas Terceira e São Miguel, e depois para Lisboa.Em 1655, a 9 de abril, obtém do rei a liberdade para os índios, e parte novamente para o Brasil (lei que acabou por nunca ser cumprida, para tristeza de Vieira). Isto traz-lhe dissabores. Agrava-se a hostilidade dos colonos para com os jesuítas e Vieira parte novamente para Lisboa.
Em 1662, acontece ocorre um golpe palaciano que entrega o governo do reino a D. Afonso VI e Vieira é afastado da corte, sendo desterrado para o Porto. Em 1663, é desterrado para Coimbra e chamado pela Inquisição para depor por causa da carta que escreveu intitulada “Esperanças de Portugal. Quinto Império do Mundo”. Em 1665, a 1 de outubro, é preso pela Inquisição e apenas o deixam ficar com a Bíblia e o Breviário. Em 1666, entrega na Inquisição a sua Defesa perante as acusações que lhe faziam – obra que ficou conhecida como Defesa perante o Tribunal do Santo Ofício. Em 1667, D. Afonso VI é obrigado a abdicar e sobre ao trono o infante D. Pedro, que será mais favorável a Vieira. Nesse mesmo ano, a 24 de dezembro, ocorre a leitura da sentença, da Inquisição, privando Vieira de pregar e de voz ativa e passiva, determinando igualmente a sua reclusão, por tempo indeterminado, numa das Casa da Companhia de Jesus.
Em 1668, é posto em liberdade e, em 1669, parte para Roma para tratar do processo de beatificação de uns mártires jesuítas do Brasil, aproveitando para tratar também da revisão do seu processo inquisitorial. Em Roma, obtém grande fama como orador e grande simpatia da rainha Cristina da Suécia. Em 1675, um Breve do papa isenta Vieira da Inquisição portuguesa, e nesse ano regressa a Lisboa.
Em 1681, Vieira regressa ao Brasil e, em 1694, contra o seu parecer, são assinadas normas sobre a administração dos índios, que lhes eram desfavoráveis; Vieira vota novamente a favor da liberdade dos índios. Por esta altura, Vieira estava bastante debilitado e quase já não via e, por isso, ditava a sua última obra, que deixou inacabada, escrita em latim, ao seu secretário – A Chave dos Profetas.
No dia 18 de julho de 1698, Vieira, então com 89 anos, more no Colégio da Baía. A Lisboa a notícia só chegará a 2 de novembro desse ano e lá se celebrarão exéquias solenes na Igreja de S. Roque.
A par de uma vida invulgar está uma obra extraordinária, que, num projeto dirigido pelos professores José Eduardo Franco e Pedro Calafate, foi agora reunida em 30 volumes – a Obra Completa Padre António Vieira – dividida por quatro tomos:
o tomo I, com 5 volumes, integra a obra epistolográfica, as cartas de Vieira;
o tomo II, com 15 volumes, integra a obra parenética, os sermões de Vieira;
o tomo III, com 6 volumes, reúne a obra profética, escritos em que Vieira idealizou uma nova era para a humanidade e para Portugal;
e o tomo IV, com 4 volumes, integra escritos sobre várias temáticas – escritos políticos, escritos sobre os índios, escritos sobre os judeus, poesia e teatro.
Foi, para nós, uma grande honra comemorarmos, desta forma, o Dia Internacional da Língua Materna e contar com a presença de uma prestigiada colaboradora na obra de Vieira.
Resta-nos citar...
O querer e o poder, se divididos são nada, juntos e unidos são tudo. PAV