Memórias
No meio de todas as memórias importantes e marcantes na nossa vida, por vezes as melhores e que mais se destacam são as mais simples que nunca pensamos que nos iriamos lembrar passados muitos anos, mas que ainda nos conseguem dar aquele sentimento de nostalgia e felicidade.
Ainda me lembro bem de quando eu, em criança, chegava a casa da escola. Era sempre igual. Chegava na carrinha da escola, já ao fim da tarde, juntamente com o meu primo, um ano mais velho que eu, e a minha avó estava à nossa espera, na paragem onde nós saíamos para irmos juntos para casa, uns metros à frente. Cumprimentávamos sempre a vizinha da frente, que ia buscar a criança de quem tomava conta. Ainda hoje, quando me vê, me reconhece e pergunta sobre mim.
Chegávamos a casa, todos eufóricos, a correr para arrumarmos as coisas e podermos ir brincar juntos. A minha avó, sempre com muita paciência, lá ia atrás de nós, sempre preocupada para nós não cairmos. Sendo de idades próximas, eu e o meu primo andávamos sempre juntos, tínhamos sempre alguém com quem estar. Já não me lembro bem o que fazíamos, arranjávamos sempre tantas formas de nos entreter (jogar à bola, saltar à corda...). Fazíamos tudo e nada. Lembro-me, particularmente, do cuidado que tínhamos de ter para conseguirmos ir buscar a corda do meu avô, pois tínhamos de passar pelo cão dele - eu tinha uma fobia enorme de cães – especialmente, após ter sido mordida. O meu primo, sempre o meu protetor, ia à frente e dizia-me quando eu podia passar. E assim nós passávamos todas as tardes, na companhia um do outro. Ele ia sempre para casa antes de mim. Quando ele se ia embora, eu ficava com os meus avós que, coitados, tinham de arranjar uma forma de me entreter. O meu avô estava sempre pronto a jogar cartas comigo e a minha avó, com paciência, deixava-me estar ao lado dela enquanto ela cozinhava, e eu, criança irrequieta que era quando lá estava, queria sempre imitá-la. Reconheço agora a paciência que ela teve na altura para tomar conta de mim todos os dias.
Hoje, eu e o meu primo crescemos e a minha avó já cá não está, mas ainda me consigo lembrar das tardes em que ele me fez companhia e em que os meus avós tomaram conta de mim, com tanto carinho e paciência.
Inês Silva, 12º A