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Sermão de Santo António aos Peixes, interpretado por Diogo Infante, no Teatro Gil Vicente, em Barcelos.
“Vos estis sal terrae” (Vós sois o sal da terra)
Foi com estas palavras que o grande ator, Diogo Infante, iniciou a encenação, a solo, do “Sermão de Santo António aos Peixes”, da autoria do Padre António Vieira, que teve lugar no teatro Gil Vicente.Perante uma assistência constituída, maioritariamente, por alunos do 11º ano da Escola Secundária de Barcelinhos, o ator cativou a inteligência dos ouvintes usando, como seria de esperar, uma entoação de voz extraordinária (a frase interrogativa num tom mais alto, a declarativa num tom mais baixo). Os gestos, as interjeições e exclamações, as pausas - propositadas ou não - interpelaram os ouvintes para a reflexão sobre problemas muito atuais como a corrupção, o poder e a tentação desmedida.Um texto de 1654 que não perdeu a actualidade, em que é criticada a prepotência dos grandes que, como peixes, vivem do sacrifício de muitos pequenos, os quais "engolem" e "devoram". Este texto, proferido pelo Padre António Vieira em São Luís do Maranhão, é marcado por rasgados laivos de ironia, e por um agudo senso de observação sobre os vícios e vaidades do Homem, aqui comparado aos peixes, na mais sábia alegoria. - “Vos estis sal terrae”! [Diogo Infante a exaltar-se em latim fica ainda melhor].O efeito do sal é impedir a corrupção: «...Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar». Inesquecível!