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Beaf - Biblioteca Escolar António Ferraz

"Ler engrandece a alma!" [Voltaire]

Beaf - Biblioteca Escolar António Ferraz

"Ler engrandece a alma!" [Voltaire]

Diários de escrita, por Sérgio Carvalho.

"Carta." 
Pensei entregar-teuma carta e colocar lá tudo aquilo que sinto por ti.
Uma folha A4 não chegaria, uma caneta de tinta permanente talvez fosse pouco;um envelope… sem selo porque o portador dessa carta saberia onde é a tua caixade correio.
Desenharia o teunome com o cuidado de chinês a escrever os seus carateres; escreveria mil, duasmil, três mil palavras.
Não chega, querosempre mais e mais e mais.
Sinto um vazio, umcansaço enorme só de caminhar ao teu lado, só de escrever estas palavras todas.
Rasguei a carta,rasguei-a e guardar os bocados numa caixa no fundo do armário.
Estive várias vezes perto de dizer por palavras aquilo que escrevi neste bloco.Bastava formar a forma verbal do presente. Começo com o “eu” mas o restoesvai-se num lamurio.
Engulo em seco!
Levanto-me. Abro oarmário. Procuro aquela caixa. Os papeis estão lá, tal e qual como eu osdeixei.
Começo a chorar:por uma série de razões que não interessam, que não me interessam. Mas choro!
Pego nos restos dacarta “ridícula”, como o poeta a caracterizaria, e atiro-os para o meio doquarto com um grito.  
Abrir aquela caixasó me fez chorar. Abrir aquela caixa só me fez ver que perdi a vontade de teamar, apesar de o querer. Aquela caixa… aquela malfadada caixa.
Olho pela janela: vejo neve a cair e penso em escrever uma nova carta. Destavez, o assunto não seria o que eu sinto mas o que tu sentes, qual Houdini aadivinhar os pensamentos dos outros.  
A carta poderia terfloreados, juras, promessas ou simplesmente ter três letras redondas: um “N”,um “A” com um til e um “O”. Essas letras dir-me-ias a mim quando eu teconfrontasse e te dissesse aquilo que escrevi naquela carta ridícula.
Uma voz soa-me na cabeça: é a minha própria voz, a minha própriaconsciência a dizer-me para ignorar os pensamentos.  
Olho para o meubloco e os olhos desviam-se para os bocados de papel que havia lançado para omeio do quarto momentos antes.  
Pego na caneta… ecomeço a escrever. 

Diários de escrita, por Sérgio Carvalho.

"Carta." 
Pensei entregar-teuma carta e colocar lá tudo aquilo que sinto por ti.
Uma folha A4 não chegaria, uma caneta de tinta permanente talvez fosse pouco;um envelope… sem selo porque o portador dessa carta saberia onde é a tua caixade correio.
Desenharia o teunome com o cuidado de chinês a escrever os seus carateres; escreveria mil, duasmil, três mil palavras.
Não chega, querosempre mais e mais e mais.
Sinto um vazio, umcansaço enorme só de caminhar ao teu lado, só de escrever estas palavras todas.
Rasguei a carta,rasguei-a e guardar os bocados numa caixa no fundo do armário.
Estive várias vezes perto de dizer por palavras aquilo que escrevi neste bloco.Bastava formar a forma verbal do presente. Começo com o “eu” mas o restoesvai-se num lamurio.
Engulo em seco!
Levanto-me. Abro oarmário. Procuro aquela caixa. Os papeis estão lá, tal e qual como eu osdeixei.
Começo a chorar:por uma série de razões que não interessam, que não me interessam. Mas choro!
Pego nos restos dacarta “ridícula”, como o poeta a caracterizaria, e atiro-os para o meio doquarto com um grito.  
Abrir aquela caixasó me fez chorar. Abrir aquela caixa só me fez ver que perdi a vontade de teamar, apesar de o querer. Aquela caixa… aquela malfadada caixa.
Olho pela janela: vejo neve a cair e penso em escrever uma nova carta. Destavez, o assunto não seria o que eu sinto mas o que tu sentes, qual Houdini aadivinhar os pensamentos dos outros.  
A carta poderia terfloreados, juras, promessas ou simplesmente ter três letras redondas: um “N”,um “A” com um til e um “O”. Essas letras dir-me-ias a mim quando eu teconfrontasse e te dissesse aquilo que escrevi naquela carta ridícula.
Uma voz soa-me na cabeça: é a minha própria voz, a minha própriaconsciência a dizer-me para ignorar os pensamentos.  
Olho para o meubloco e os olhos desviam-se para os bocados de papel que havia lançado para omeio do quarto momentos antes.  
Pego na caneta… ecomeço a escrever.