Liu Xiaobo na secundária de Barcelinhos
A escola secundária de Barcelinhos apelou à libertação de Liu Xiaobo.
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Poesia não é sentimento, é linguagem. Não é experiência vivida, éexperiência de linguagem. Ela não se faz com sentimentos, nem também comideias, mas com palavras, apenas com palavras. Tudo o que a poesia dá a sentir,tudo o que ela dá a pensar, forma-se nas palavras da poesia e não é sensível nempensável fora delas. A poesia é criação, e criação com palavras, mas a criaçãopoética consiste em dar forma num dizer a qualquer coisa que excede todo odizer, em fazer ver num dizer o que, no ser, não é dizível. A experiênciapoética da linguagem é pois experiência de superação da linguagem através daprópria linguagem, experiência de auto-superação da linguagem. A poesia exploraas potencialidades da linguagem, ou de uma língua, mas para a levar a um limiteem que o seu poder coincide com a sua impotência. A poesia, a linguagem propriamentepoética, tece-se nesse limite, nesse ponto de coincidência do poder e daimpotência de dizer, o que equivale a afirmar que não há poesia sem um combatecom a linguagem que é um combate desta consigo mesma, uma violentação das suaspossibilidades. Não há poesia sem uma violência feita à linguagem, a criaçãopoética é essa violência que força a linguagem, ou a língua-mãe do poeta, aabrir-se para um indizível, para um Fora dela, mas um fora que só existe, ou quesó é acessível, a partir de dentro, da linguagem mesma, e como o seu limite.Dito de outro modo, a poesia consiste em inventar na língua uma nova língua,uma heterolíngua poética, que faça a língua atingir o seu limite, que ponhatoda a língua «fora de si», em transe, suspensa sobre um além ou um aquém dela,sobre um silêncio povoado de visões ou sensações que é todavia um silêncio daprópria linguagem, um silêncio só possível na e pela linguagem. A poesia faz-seno «meio» ou na matéria de uma língua, com as palavras de uma língua, mas porela desviadas da sua significação referencial, das propriedades sintáticas dalíngua, da função comunicativa (a poesia não comunica, nada tem a comunicar,nenhum dado, ela é descomunicação, «voz do silêncio» como dizia Malraux de todaa expressão artística). Ela faz-se com as palavras práticas da linguagemquotidiana, mas para as recombinar segundo outras regras e assim constituir,por desvio criativo, uma «outra» língua, uma língua de imagens, uma estranhalíngua pictural. Para criar com elas, com o seu jogo combinatório alógico em«sintaxes de exceção-", com as suas surpreendentes aproximações eafastamentos decorrentes desse jogo, as suas consonâncias e dissonânciasrítmicas e semânticas, sentidos que não são já significações mas visões, «vidências»na aceção rimbaldiana, efeitos extra-linguísticas: uma transcendência luminosadas palavras, palavras alucinadas, palavras-luz. Ou seja. A poesia violenta a linguagem,as suas funções, a sua organização, para a tornar apta para um silêncio sóaudível porém através da linguagem, para a fazer dizer o silêncio, para atransformar, no limite, em silêncio. Na bela formulação de Ruy Belo, poeta équem «encontrou ou procurou na linguagem um contorno para o silêncio que há novento, no mar, nos campos».
Poesia não é sentimento, é linguagem. Não é experiência vivida, éexperiência de linguagem. Ela não se faz com sentimentos, nem também comideias, mas com palavras, apenas com palavras. Tudo o que a poesia dá a sentir,tudo o que ela dá a pensar, forma-se nas palavras da poesia e não é sensível nempensável fora delas. A poesia é criação, e criação com palavras, mas a criaçãopoética consiste em dar forma num dizer a qualquer coisa que excede todo odizer, em fazer ver num dizer o que, no ser, não é dizível. A experiênciapoética da linguagem é pois experiência de superação da linguagem através daprópria linguagem, experiência de auto-superação da linguagem. A poesia exploraas potencialidades da linguagem, ou de uma língua, mas para a levar a um limiteem que o seu poder coincide com a sua impotência. A poesia, a linguagem propriamentepoética, tece-se nesse limite, nesse ponto de coincidência do poder e daimpotência de dizer, o que equivale a afirmar que não há poesia sem um combatecom a linguagem que é um combate desta consigo mesma, uma violentação das suaspossibilidades. Não há poesia sem uma violência feita à linguagem, a criaçãopoética é essa violência que força a linguagem, ou a língua-mãe do poeta, aabrir-se para um indizível, para um Fora dela, mas um fora que só existe, ou quesó é acessível, a partir de dentro, da linguagem mesma, e como o seu limite.Dito de outro modo, a poesia consiste em inventar na língua uma nova língua,uma heterolíngua poética, que faça a língua atingir o seu limite, que ponhatoda a língua «fora de si», em transe, suspensa sobre um além ou um aquém dela,sobre um silêncio povoado de visões ou sensações que é todavia um silêncio daprópria linguagem, um silêncio só possível na e pela linguagem. A poesia faz-seno «meio» ou na matéria de uma língua, com as palavras de uma língua, mas porela desviadas da sua significação referencial, das propriedades sintáticas dalíngua, da função comunicativa (a poesia não comunica, nada tem a comunicar,nenhum dado, ela é descomunicação, «voz do silêncio» como dizia Malraux de todaa expressão artística). Ela faz-se com as palavras práticas da linguagemquotidiana, mas para as recombinar segundo outras regras e assim constituir,por desvio criativo, uma «outra» língua, uma língua de imagens, uma estranhalíngua pictural. Para criar com elas, com o seu jogo combinatório alógico em«sintaxes de exceção-", com as suas surpreendentes aproximações eafastamentos decorrentes desse jogo, as suas consonâncias e dissonânciasrítmicas e semânticas, sentidos que não são já significações mas visões, «vidências»na aceção rimbaldiana, efeitos extra-linguísticas: uma transcendência luminosadas palavras, palavras alucinadas, palavras-luz. Ou seja. A poesia violenta a linguagem,as suas funções, a sua organização, para a tornar apta para um silêncio sóaudível porém através da linguagem, para a fazer dizer o silêncio, para atransformar, no limite, em silêncio. Na bela formulação de Ruy Belo, poeta équem «encontrou ou procurou na linguagem um contorno para o silêncio que há novento, no mar, nos campos».