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Beaf - Biblioteca Escolar António Ferraz

"Ler engrandece a alma!" [Voltaire]

Beaf - Biblioteca Escolar António Ferraz

"Ler engrandece a alma!" [Voltaire]

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Meu Amigo Mar
Estás tão sereno, tão calmo, dia perfeito para desabafar contigo! Agradeço-te a oportunidade que me dás, por todos os bons momentos que passamos juntos. És o único que me ouve e que me responde com o teu esplêndido bramir, com o teu sussurro das areias, com o teu perfume das algas, com o teu respirar que me enlouquece. Deitas-me nos teus braços e flutuas-me no teu corpo, és meu e eu sou teu. Sou filho do mar, sou filho da terra. Em ti me vejo, em ti te sinto. Tu, que tens a capacidade de ser tão frio e tão quente, tão gélido e tão vaporoso, tão natural e tão perfeito, tão mágico e tão manso. Porque és tu tão diferente? Tens o poder de me tornar diferente… tranquilo e às vezes sinto-me como se estivesse noutro mundo. Sou aquele que no Verão imerge no teu refresco, delira com a tua espuma e veleja nas tuas montanhas. Ensinaste-me a noção de que o tempo que perdemos contigo não é tempo perdido, mas sim um ganho. Serves ainda de mimo e de descanso, pois tens a capacidade de atrair milhões durante toda a tua vida. Como é possível?Conta-me como é a tua casa!? Esse sítio maravilhoso maior do que onde eu vivo, esse local de belas criaturas, de sabor salgado, sereno e doce. Vivenciaste tantos povos, tantas histórias, tantas civilizações, tantos amores, tantas tristezas, tanto trabalho, tantas perdas. Foi em teu seio que se gerou a vida. Foi em teu seio que nós, seres vivos, nos geramos.Descalço-me, rebolo pelo teu corpo, sinto as pedras, o tato da natureza, sinto a vida, sinto o horizonte e a imensidão, sinto a frieza de quando estás triste, ou o quente de quando estás vivo.Dás-me peixe, dás-me algas, dás-me água, dás-me vida, dás-me alegria e ânimo, ensinas-me a sorrir e a voltar a enfrentar os problemas e a nunca desistir daquilo de que mais gostamos.Levanto-me sempre cedo e, se me perguntam se eu te vou visitar, eu respondo que sim. Mas antes de contactar com alguém, falo com o meu melhor amigo e desejo-lhe um bom dia pela janela do quarto, e sento-me na varanda a contemplá-lo. Corro pelos seus moinhos, pelo seu chão quente, sento-me sobre os rochedos íngremes moldados por ele e olho a maré e a espuma que fica na areia. Olho as gaivotas que sobrevoam sobre a minha cabeça, vejo o pescador ao longe, sinto o sol a nascer, ouço o sussurro do vento, vejo o nevoeiro ao longe, esqueço tudo, todos os problemas, confusões…Agora, aqui, sentado na areia, penso se um dia poderei dizer-te estas palavras de gratidão pelo amigo que te tornaste e pelas coisas que aprendi contigo, pelo tempo que corri contigo…Que uma onda leve esta carta e a entregue ao meu amigo.
Diários de escrita, por Flávio Oliveira